O SeNEMAU é o Seminário Nacional de Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo - um evento anual que se propõe a refletir, discutir e vivenciar as práticas sociais da arquitetura e do urbanismo, principalmente no que cerne o funcionamento dos EMAUs. Sua produção é voltada prioritariamente para os assuntos que envolvem a democratização da Arquitetura e do Urbanismo.
O XVII SeNEMAU aconteceu em Porto Alegre - RS, precisamente no Colégio Aplicação, no Campus Vale da UFRGS. Teve como temática Autonomia, Aproximação e Arte.
“Cada vez mais nos deslocamos do viver autônomo. A transformação do espaço nas grandes cidades é determinada por instâncias de poder político, econômico e técnico muito abrangentes aos quais a população não tem acesso, sendo assim heterônoma - seus reais usuários não são capazes de controlá-la. As formas de ocupar o espaço público, os padrões arquitetônicos residenciais - individuais ou coletivos -, a configuração da malha viária urbana, são determinados por essas instâncias alheias e, mesmo com intenções de criação de espaços de participação popular para decidir os rumos da cidade, pouco se avança em termos de real autonomia coletiva dos cidadãos.
O termo autonomia coletiva, aparentemente paradoxal, carrega em si uma abordagem da autonomia que não é caracterizada como a não-interferência alheia, e sim como a interferência positiva dos indivíduos no coletivo a qual pertencem, portanto como um direito e uma capacidade para participar e decidir coletivamente. Para tanto, é necessário a Aproximação das partes, para que essa autonomia não se defina como um individualismo insensível e inconsequente”.
Livreto distribuído no kit do SeNEMAU POA 2013.
A programação contou com momentos para a reflexão sobre os EMAUs (Mostra e Momento EMAU), Círculos criativos, Noites Autônomas, entre outras atividades muito interessantes!
O Solar apresentou na Mostra EMAU o trabalho de dois GTs, União da Moradia Popular e o da Alemanha.
“Foi muito gratificante apresentar no SeNEMAU, porque há 1 ano atrás eu estava no SeNEMAU Fortaleza apenas assistindo as apresentações, achando o máximo e morrendo de vontade de fazer parte daquilo também, de sentir aquilo também” Marília Amorim.
“Cheguei ao SeNEMAU PoA com muitas interrogações, sobre EMAU, sobre SeNEMAU, sobre comunidade, sobre tudo o que me esperava a partir daqueles dias em diante. E então fui até “al borde” e voei, com muitas exclamações (e mais um dobro de interrogaçõe também), mas agora com muito mais bagagem e empolgação para correr atrás das respostas e dos nossos sonhos como membros do EMAU Solar. O SeNEMAU PoA foi um livro que se abriu na minha vida, um livro chamado: Viver com Aproximação, Autonomia e Arte.” Victor Hugo Limeira.
No momento EMAU, foram discutidos algumas dúvidas frequentes dos EMAUs, com os temas: bolsa, burocracia, captação de novos membros, organização dos membros, como criar um EMAU,
Os percursos urbanos foram dois, um pela margem da Lagoa dos Patos e outro pelo Centro.
Fonte: Marília Amorim
Na terça aconteceu a palestra do Al Borde, representado pelo David Barragan. Ele apresentou a questão da espontaneidade do arquiteto, através da criação de possibilidades não convencionais entre as demandas da comunidade e sua espacialização. Criando projetos intimamente ligados ao local e as populações com ele envolvidas.
Na quarta foi a vivência no Largo Vivo. O Largo vivo é um espaço onde hoje as pessoas se reúnem para ocupá-lo com música, conversa, arte e ideias. Essa mobilização surgiu como resposta à crescente privatização e ocupação de espaços públicos com estacionamentos, como é o caso do Largo Glênio Peres, praça aberta ao lado do Mercado Público.
Fonte: Marília Amorim
Na noite da quinta-feira aconteceu a apresentação do Rafael dos Passos, que hoje trabalha no IAB-RS e no CAU-RS, foi aluno da UFRGS e diretor da FeNEA. Ele apresentou o Manual de Implatação da Assistência Técnica Pública e Gratuita para Famílias de Baixa Renda para Projeto e Construção de Habitação de Interesse Social, o qual ajudou na sua elaboração. A partir dessa palestra foi possível esclarecer dúvidas que o Solar tinha quanto à sua atividade.
Nos círculos criativos, teve a presença de alguns profissionais convidados, como a professora, arquiteta e urbanista Silke Kapp, o Coletivo Usina, alguns grupos de Extensão da UFRGS e o professor, arquiteto e urbanista Adriano Mattos.
Fonte: Marília Amorim
Silke Kapp é arquiteta e urbanista e tem doutorado em filosofia, é também professora da UFMG e coordena o grupo MOM – Morar de Outras Maneiras. Seu trabalho trata de teoria e crítica da arquitetura, habitação, produção autônoma do espaço cotidiano e interfaces físicas e digitais. “Acho que o aspecto mais importante a discutir em tudo isso é nós, arquitetos. Não reproduzimos nas comunidades ou mesmo no atendimento individual de pessoas não-abastadas os mesmos procedimentos de sempre, isto é, formas de interação, comunicação e negociação que surgiram historicamente para a clientela rica” relato de Silke Kapp registrado no livreto do kit do SeNEMAU Porto Alegre 2013.
A Usina apresentou a sua metodologia de trabalho que envolve a criação de cartilhas com regulamentos da obra, discussões em assembleia e apresentação de ferramentas. No mutirão todo mundo participa de todas as frentes de trabalho, com rodízio de funções. Buscando pensar a lógica de produção da construção como um meio de construir novas relações, além de debater a lógica de ocupação do solo, trazendo formas diferentes, com melhor aproveitamento, identificadas ao longo do processo de projeto. Com essa forma de atuação busca instrumentalizar a comunidade para que a comunidade possa perceber a melhor solução de projeto, esse processo envolve a formação política tanto dos arquitetos com a comunidade, quanto da comunidade com os arquitetos, visando a participação efetiva nas tomadas de decisões.
Houve apresentação de projetos de extensão e as estruturas de alguns Núcleos de Extensão, de diversas áreas de atuação, com uma rica interdisciplinaridade (onde os membros desses núcleos afirmam ser o segredo do sucesso como extensão) e em seguida foi formado um grande círculo que gerou uma dinâmica de discussões, que acabaram sendo mais voltadas para a atuação de alguns desses núcleos em comunidades (por ser essa a relação mais forte dentro dos EMAUs), onde muitas dúvidas foram tiradas a respeito do método de mutirão (é a melhor forma de se atuar?), de projeto participativo (a que ponto ele é de fato participativo?), como a IES pode ajudar essas iniciativas (como foram dadas essas relações e que auxílios foram proporcionados?), entre outras dúvidas que ficaram mais esclarecidas para grande parte dos presentes.
Adriano Mattos é arquiteto e urbanista, atualmente leciona no Departamento de Projetos na Escola de Arquitetura da UFMG, realiza desenvolvimento de produtos, planejamento e projeto do equipamento\projeto do espaço urbano\projetos da edificação, tem livros e capítulos publicados, trabalhos em eventos, textos em jornais e revistas, e tem dois artigos publicados, um deles que fala sobre Dédalo (“A Dádiva de Dédalo”). O trabalho apresentado inicia justamente com a história de Dédalo, onde ele explica através da história e da mitologia, o que o arquiteto sabe fazer - o artíficie, também fala sobre o Opalinus (construtor cego de navios), sugere o “arquiteto ideal”, que seria o arquiteto como tradutor e propósitor. Diante de todas essas histórias que tentam explicar no passado o que acontece no presente, ele continua sua conversa explicando sobre toda a sua vida acadêmica e suas atuações como profissional, explicando seus projetos e relacionando com iniciativas da extensão e afirmando o quão importante é para o rumo de um estudante, e como ele mesmo diz: “Experiência, do grego, quer dizer travessia perigosa, por lugares desconhecidos.”. Foi justamente com uma conversa mais tranquila, dinâmica, contando histórias de negócios, pessoais e coletivas onde ele esteve presente, que o Adriano conquistou a atenção de todos, abriu os horizontes e liberou os nossos medos com relação a extensão acadêmica, principalmente com o EMAU (nome o qual ele não gosta, gerando depois até discussões sobre esse nome, até que surge um que agradou bem mais a todos - Escola Modelo de Arquitetura e Urbanismo, onde há mais sentido com o que queremos proporcionar de fato: aprendizagem mútua, onde não se sabe a diferença de professor e aluno, justamente por que não existe essa diferença.). Ele antes de finalizar e dar início a um círculo de discussões e dúvidas, cita o seguinte: “Peter Brooke, um dos maiores encenadores da atualidade, em recente passagem pelo Brasil disse que o grande desafio do teatro é “ser vivo, tocar as pessoas, ir além da facilidade do sórdido”,- fala de uma “dimensão ‘menor’ do teatro, do seu caráter ‘de ofício’ e da possibilidade de um trabalho que relaciona saberes e pessoas de raças e culturas e religiões diferentes” : creio ser este o grande desafio da arquitetura e dos arquitetos contemporâneos, também um desafio de caráter ‘menor’, perante um mundo tão vorazmente espetacularizado e tão violentamente dominado pelo capital”.
O pessoal do Solar e do Cobogó (UFPE) sentiram necessidade de trocar ideia sobre os Sofás que aconteceram envolvendo o Solar e Canto (06, 07 e 08 de Junho, 2013) e o Trama (UFPB) e o Cobogó (14, 15 e 16 de Junho, 2013) no intuito de levar ao restante do Brasil essa experiência.
O Davi Falcão (Cobogó) apenas avisou em um dos almoços que os EMAUs iriam se reunir num ambiente da escola chamado cafofo para falar sobre o Sofá e quem quisesse, poderia ir para acrescer e trocar ideias.
A temática do evento estava tão forte, que a autônomia, aproximação e arte estiveram bastante presentes durante essa reunião. Dela surgiram diversos questionamentos sobre os SeNEMAUs. Por que não foi pra frente o que ficou de encaminhamento na plenária do SeNEMAU Fortaleza? Por que as perguntas nos Momentos EMAUs são sempre as mesmas? Não fica meio cansativo tratar de alguns assuntos repetitivos em todo SeNEMAU? Destas e de outros questionamentos e comentários surgiu a necessidade de registrar os SeNEMAUs, assim como foi feito no II SeNEMAU, que aconteceu em Recife em 1998.
Fonte das imagens: Marília Amorim
Durante o sábado foi feito um mutirão conceitual e a preparação da festa. A elaboração do caderno foi começada no SeNEMAU, cujas partes foram divididas e é possível acompanhar o andamento pelo grupo do facebook do SeNEMAU.
Por fim, a plenária aconteceu no domingo, foi toda documentada pela ComOrg e teve a eleição do próximo SeNEMAU, que será em Floripa!
E com churrasco, quentão, chocolates e muita saudade, o SeNEMAU Porto Alegre terminou no dia 4 de julho de 2013.
Texto escrito por Marília Amorim e Victor Hugo Limeira, com contribuição do próprio caderno do SeNEMAU Porto Alegre.
SeNEMAU:
Página da FeNEA: http://www.fenea.org/senemau-1
SeNEMAU Porto Alegre:
Página do Facebook: https://www.facebook.com/senepoa2013
Grupo do Facebook: https://www.facebook.com/groups/300678810060033/
Al Borde:
Página Oficial: http://www.albordearq.com/
Facebook: https://www.facebook.com/al.borde.1
Usina:
Página Oficial: http://www.usinactah.org.br/
Silke Kapp:
Perfil na UFMG: http://somos.ufmg.br/professores/view/2555
Morar de Outras Maneiras: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/index.html
Adriano Mattos:
Perfil na UFMG: http://somos.ufmg.br/professores/view/56
Piseagrama: http://piseagrama.org/
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